Uma herança milenar
A história dos judeus em Portugal é longa, complexa e marcada por momentos de prosperidade, perseguição e renascimento. Desde os tempos da presença romana, comunidades judaicas viveram na Península Ibérica, desenvolvendo-se culturalmente e economicamente durante a Idade Média. Com a formação do reino de Portugal, os judeus ocuparam posições de relevo nas ciências, medicina, diplomacia e finanças.
Perseguição e conversão forçada
Contudo, no final do século XV, com a expulsão dos judeus de Espanha em 1492 e a subsequente assinatura do Tratado de Alççobas-Toledo, Portugal tornou-se refúgio para milhares de judeus sefarditas. Essa relativa liberdade foi abruptamente interrompida em 1496, quando o rei D. Manuel I decretou a expulsão ou conversão forçada dos judeus, culminando na criação da Inquisição portuguesa em 1536.
Muitos judeus convertidos, os chamados “cristãos-novos”, continuaram a praticar secretamente o judaísmo, sendo perseguidos, julgados e condenados pela Inquisição durante mais de dois séculos.
Renascimento e reestruturação comunitária
Com o fim da Inquisição no século XIX, iniciou-se um lento processo de reabilitação da identidade judaica em Portugal. O retorno gradual de judeus, especialmente vindos de Marrocos e Gibraltar, possibilitou a reestruturação comunitária. Foi neste contexto que, em 1904, foi inaugurada a Sinagoga Shaaré Tikva em Lisboa, sendo esta a primeira sinagoga construída em solo português desde o século XV.
Comunidades judaicas atuais em Portugal
Atualmente, a comunidade judaica em Portugal é pequena, mas ativa e em crescimento. A Sinagoga Kadoorie – Mekor Haim, no Porto, é a maior da Península Ibérica e acolhe judeus de mais de trinta nacionalidades. Esta instituição tem promovido o diálogo inter-religioso, eventos educativos, bem como iniciativas de preservação da memória do Holocausto.
Em Lisboa, a Sinagoga Shaaré Tikva continua a ser um centro de culto, educação e memória histórica, acolhendo eventos culturais e cerimônias solenes em homenagem a figuras como Aristides de Sousa Mendes, diplomata português que salvou milhares de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Combate ao antissemitismo em Portugal
Nos últimos anos, Portugal tem vindo a desenvolver iniciativas concretas para o combate ao antissemitismo. Destaca-se, nesse âmbito, o trabalho do Museu do Holocausto do Porto, que promove a educação sobre a Shoah e organiza visitas escolares, conferências e exposições dedicadas à memória das vítimas do genocídio. Este museu colabora com entidades nacionais e internacionais no sentido de sensibilizar a opinião pública para os perigos do antissemitismo, do negacionismo e da intolerância.
Conclusão
Portugal, que outrora promoveu uma das mais severas perseguições à população judaica, tem vindo a reconhecer, ainda que de forma simbólica e parcial, a sua dívida histórica. A existência e vitalidade das comunidades judaicas atuais, embora reduzidas em números, são prova da resiliência e permanência de uma herança cultural e espiritual com profundas raízes na identidade portuguesa.
(Gênesis 12:3) “Abençoarei os que o abençoarem, e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados”.